quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

TEXTO PARA INTERPRETAÇÃO Nº25 – O ESPETO (Nível Fundamental)

TEXTO PARA INTERPRETAÇÃO  Nº25 – O ESPETO (Nível Fundamental)
O ESPETO
          Fazia um frio de rachar pedras.
          Acendeu-se uma grande fogueira e cada um tratou de chamuscar o seu pedaço de carne.
        Eu saí a procurar um espeto para o meu assadinho. A noite era muito escura, mas graças ao clarão da fogueira descobri uma pequena reboleira de mato, ali perto. Aproximei-me e quando ia cortar um galho qualquer, caiu-me ao chão a faca, abaixei-me para apanhá-la dentre as ervas, e com tal sorte, que ao lado dela encontrei um pedaço de pau tal e qual como eu queria: duma meia braça, grossinho, liso, e o que mais é, já com a ponta feita.
         Por certo que seria um espeto já pronto que algum dos camaradas perdera; melhor para mim! E ainda bati com ele no chão para limpá-lo duns capins secos, e terra que estava pegada.
          Voltando, atravessei o meu churrasco no meu espeto achado, e finquei-o na beirada do fogo.
          Vinha clareando o dia.
      Por toda a parte branqueava a geada, alta de dois dedos, geada farinhenta, que é a mais fria de todas. Estava eu um pouco arriado, conversando, quando um cabo, baiano, que viera acender o cigarro numa brasa, gritou, olhando para o chão, admirado:
         - Olha o assado com o espeto, cadete Romualdo, que vai-se embora! …
          Julguei que era algum gaiato que pretendia furtar-me o churrasco; mas o baiano repetiu:
         - Acuda, seu cadete, que o assado vai de trote! …
          Corri, e que vi? …
          O churrasco, sim senhor, borrifado de salmoura, já chiando na gordura, que ia andando pelo chão… dava a ideia de um cágado sem pernas, mas de cabeça e cauda mui compridas! …
          Acudiram então outros rapazes, muitos, quase todos; e todos viram o churrasco arrastando-se, fugindo da fogueira.
          Então rompeu o sol. Foi quando se pôde verificar a cousa: o espeto era uma cobra!

(J. Simões Lopes Neto, Casos do Romualdo. Porto Alegre, Editora Globo, 1973)
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Vocabulário:
Reboleira – grupo de arbustos
Meia braça – medida antiga equivalente a 1 metro e dez centímetros (1,10 m)
Arriado – abaixado, acocorado, agachado
Cabo – militar superior ao soldado
Cadete – estudante militar
Gaiato – brincalhão, travesso
De trote – depressa, rapidamente
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Se você leu o texto com cuidado, saberá resolver estas questões:
  1. Romualdo é uma personagem criada pelo escritor gaúcho J. Simões Lopes Neto. Sua especialidade é contar casos diversos, sempre exagerando a verdade… Nesse texto, Romualdo aparece no tempo da Guerra do Paraguai (entre 1865 e 1870), fazendo parte de um regimento. Que posto ocupava Romualdo?
  2. Embora fizesse muito frio naquela noite, Romualdo afastou-se da fogueira. Por quê?
  3. Romualdo ia cortar um galho para fazer um espeto, mas não cortou. Por quê?
  4. Quando o cabo baiano gritou admirado que o assado com os espeto ia-se embora, Romualdo correu para perto da fogueira. Que cena presenciou?
  5. O acontecimento só se esclareceu quando rompeu o dia. O que havia acontecido?
  6. É característica de Romualdo apresentar testemunhas dos casos que conta. Isso acontece nesse texto? Explique.
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Gabarito
  1. Cadete
  2. Porque precisava providenciar um espeto.
  3. Porque, ao pegar a faca que caíra, achou um pedaço de pau como queria.
  4. O assado já chiando na gordura ia andando pelo chão, fugindo da fogueira.
  5. Como estava escuro, Romualdo encontrara um pau, mas na verdade era uma cobra congelada e a usou como espeto. No calor do fogo, ela descongelou-se e fugiu levando a carne que estava espetada no seu corpo.
  6. Sim. Ele cita o testemunho de quase todos os companheiros.

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