quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Notações Léxicas.

Notações Léxicas.

LIÇÕES DE PORTUGUÊS   
1 – TEMA: Notações léxicas: acento agudo, grave, circunflexo, til, apóstrofo, cedilha. O hífen e seu uso na escrita da Língua Portuguesa.
2 – PRÉ-REQUESITO:   a) Ler compreensivamente.
b) Ter concluído, com êxito, o estudo dos Roteiros 5 e 6 ou ter  noções de tonicidade das palavras e acentuação gráfica.
3 – META: As atividades deste roteiro foram organizadas com o objetivo de oferecer condições de aprendizagem sobre o usos dos sinais gráficos usados na escrita das palavras em português.
4 – PRÉ-AVALIAÇÃO: Se você conhece os sinais gráficos e seu uso em português, responda à Auto-avaliação que se encontra no final deste livrinho. Se você obtiver um numero mínimo de 80 pontos, parabéns! Você não precisa estudar esta lição. Caso contrário, aconselho-o a ler os textos, procurando entender as explicações dadas.
5 – ATIDADES DE ESTUDO: Ler com entendimento é pré-requesito para se aprender qualquer coisa através da leitura. Por isso, leia o texto do Anexo A, para treinar sua interpretação. Embora a leitura dos anexos, em si, seja também interpretação de texto, ela é voltada para uma finalidade mais específica, que é a assimilação dos conceitos gramaticais. O texto do Anexo A é mais genérico e serve de treinamento para a compreensão geral da linguagem. Portanto, faça o seguinte:
a) Tenha um dicionário de Português ao seu alcance, para consultá-lo sobre as palavras que você desconhece o significado;
b) Procure um lugar sossegado para ler os textos e fazer os exercícios. Leitura compreensiva precisa de ambiente calmo.
c) Leia primeiro o texto, procurando entender as explicações; faça os exercícios logo em seguida; compare suas respostas com o gabarito; veja o que você errou e retorne ao texto para verificar o porquê do erro.
6 – PÓS-AVALIAÇÃO: Após ter feito a leitura compreensiva dos textos e respondido aos exercícios e se sentir seguro da sua aprendizagem, responda às questões propostas na Auto-avaliação. Creio que você agora acertará todas. Caso isso não aconteça, consulte as orientações dadas nas Atividades Suplementares.
7. ATIVIDADE SUPLEMENTAR: Se você não conseguiu alcançar 80 pontos na Auto-avaliação, não desanime! Volte à leitura do Anexo B.
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ANEXO A   –   Interpretação de texto
O texto abaixo está com os parágrafos numerados para facilitar a localização das palavra e expressões.
AVENTURAS DE UM EX-CABO DE VASSOURA
(Orígenes Lessa, Napoleão em Parada de Lucas)
  1. Já fui cabo de vassoura. Sou cavalo de pau. Estive quase a ser lenha. Ou lixo, que ainda é mais triste. Sem falar no meu passado mais antigo, de quando fui árvore. Vida incerta é a da madeira, explorada e escravizada pelo bicho homem. Onde estivermos nós, subindo em árvores, com troco, folha e ramos vários, lá chega o homem. E quando o homem chega, quase sempre “dá galho”… Feliz é a planta ou árvore carregada de frutos e flores. Em geral poupada, embora roubada nas flores e frutos… Mas nos outros casos, machado e fogo nos perseguem… E nada podemos fazer. O bicho homem, que se intitula, vaidoso, de “homo sapiens”, palavra de uma língua esquecida, cuja tradução é “cara sabido”, é orgulhoso, convencido e, muitas vezes, cruel. Mas tem, realmente uma força contra a qual nada podemos. Até hoje não entendi bem esse estranho poder desse bicho terrível.
  2. Dizem os meus irmãos mais velhos da floresta – ou diziam, nos meus tempos de mato – que nada é possível contra o homem. Não adianta lutar.
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3.          A natureza – os inanimados, como nos chamam eles – tem feito miséria para acabar com tal raça. Inventou doenças terríveis, que às vezes se transformam em espantosas epidemias. Houve, por exemplo, uma tal gripe espanhola – isso eu ouvi na casa em que fui cabo de vassoura e depois cavalo de pau – que matou em poucos meses mais gente, uns vinte milhões, que toda uma guerra que durou quatro anos, e que foi de uma estupidez desumana, como todas as guerras. As águas, por vezes, se levantam e cobrem cidades e matam milhares. Os vulcões se abrem e vomitam chamas e lavas, liquidando outros tantos. Houve duas cidades na antiguidade – Herculano e Pompeia, aliás, de gente muito pouco bacana – que foram em minutos sepultadas por um tal de Vesúvio, um ilustre vulcão perto de Nápoles. Na Itália. Outras vezes a própria Terra, nossa mãe comum, se enche de raiva. Treme de raiva. Chamam a isso de tremor de terra ou terremoto. E mais gente morre, aos milhares, ou de casa caindo por cima, ou simplesmente de medo.
4.          Tudo isso eu sei de conversas que ouvia na casa do maior amigo que tive entre os seres humanos, rara flor da espécie, meu senhor Mariozinho, o maior cavaleiro do mundo. Era uma família de doutor que sabia as coisas, e eu, às vezes largado no chão, ia ouvindo a aprendendo.
5.          Mas, por mais que nós outros, os inanimados, tenhamos feito para acabar com esse povo – epidemias, inundações, terremotos, vulcões deitando fogo – e às vezes deixando simplesmente de chover, ressequindo a terra, com sacrifício das próprias árvores, que secam e morrem, para matar o homem de fome – o tal “homo sapiens” é mesmo sabido. Morre, morre, morre, mas a espécie continua e se multiplica. E progride sempre. E constrói casas e cidades e fábricas e máquinas corredoras, voadoras, nadadoras, mergulhadoras e, o que é pior, destruidoras.
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6.          Eles tem um segredo que é a sua força: inventa. Ou pensa, que é uma coisa que acontece antes do invento. Nós, simplesmente, sentimos. Nunca se viu uma árvore, por mais forte, mais majestosa, mais bonita que fosse (toda a árvore é bela, eu vi uma vez Mariozinho dizer), construir uma casa, fabricar um automóvel, dar um jeito de viajar no espaço.
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7.          Que é que podem fazer mil árvores, que lhe negam seus frutos, numa seca feroz, quando o tal negocio de homem e mulher se juntando – e todos eles pensando e inventando – continua a multiplicar indefinidamente a sua raça? Que podemos nós nessa luta quando nem as guerras – essa é a mais triste invenção dos humanos – quando nem as guerras acabam com eles?
8.          Escravos somos desse bicho que inventa. E corta e derruba e serra e torneia e mete prego sem piedade
9.          Felizmente, entre eles, há uma coisa chamada criança.
Após a leitura do texto, responda às questões abaixo.
1. Quem é a personagem que fala no texto:
a.(   ) uma acha de lenha      b.(   ) uma árvore da floresta       c.(   ) um cavalo de pau       d.(   ) um cabo de vassoura
2. A personagem que narra esta história já tinha exercido 4 funções diferentes, antes da atual. Liste-as:
1 – _____________________2 – _______________3 – ______________4 – _____________________
3. Os sentimentos da personagem, que predominam no texto em relação ao homem, são:
a.(   ) amargura e felicidade      b.(   ) revolta e apatia        c.(   ) resignação e amargura         d.(   ) alegria e revolta
4. Por que o cavalo de pau chama o Monte Vesúvio de “ilustre vulcão” (parág. 3)?
a.(   ) Porque esse vulcão celebrizou-se ao destruir as cidades de Herculano e Pompéia.
b.(   ) Porque matou gente muito pouco bacana.
c.(   ) Porque o via como um aliado na guerra contra o homem.
5. O segredo da força humana, na opinião do cavalo de pau reside fundamentalmente:
a.(   ) na coragem e no espírito de luta            b.(   ) no espírito de luta e de destruição
c.(   ) Na capacidade de inventar e de se multiplicar.
6. A palavra incerta no texto (parág. 1), significa:
a.(   ) discutível, duvidosa       b.(   ) insegura      c.(   ) hesitante, indecisa
7. A palavra epidemia, no texto (parág. 3), significa:
a.(   ) qualquer moléstia contagiosa         b.(   ) moléstia contagiosa que se espalha rapidamente na população
c.(   ) moléstia que aparece na pele das pessoas
GABARITO
1. C      2. Árvore, quase lenha, quase lixo, cabo de vassoura.     3. c      4. c     5. c      6. b      7. b
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ANEXO B   –   NOTAÇÕES LÉXICAS
Você já deve ter observado que algumas palavras em português, ao serem escritas, recebem uns sinais, que desde que aprendemos a ler, ficamos conhecendo-as como sinais de acentuação. São as NOTAÇÕES LÉXICAS. Para que servem mesmo? Servem para indicar a pronúncia exata da palavra. Sem esses sinais, na escrita, fica complicado saber qual é a pronúncia correta de uma palavra, o que pode influir no seu significado. Quer um exemplo? Veja a frase.
A mãe sábia sabia onde estava  sabiá.
A palavra sabia aparece três vezes na frase, mas por causa do sinal gráfico ( ´ ) usado, ela muda de pronúncia e de sentido:
Sábia – sensata
Sabia – 3a. pessoa do singular, pretérito imperfeito do verbo saber
Sabiá – tipo de pássaro
É importante conhecer as NOTAÇÕES LÉXICAS e seu uso em nossa língua, pois elas fazem a diferença na hora de escrevermos algumas palavras.
Notações léxicas são sinais gráficos que indicam a pronúncia e escrita correta de uma palavra em português.
Vejamos quais são eles:
Acento agudo ( ´ ).
Serve para indicar a vogal tônica ou aberta em algumas palavras. Ex.: chulé, Pará, açúcar, aí, lépida, amássemos.
Acento grave ( ` ).
Serve para indicar a fusão da preposição “a” com o artigo “a” e com os pronomes demonstrativos aquele, aquela, aquilo. É o chamamos de crase.   Ex: Vou à escola. Dei um presente àquele menino.    Referiu-se àquilo de maneira sarcástica.
Acento circunflexo ( ˆ ).
Serve para indicar a vogal tônica com som fechado nas palavras. Ex: avô, bebê, ânimo, bônus.
Til ( ˜ ).
Serve para indicar o som nasal do “a”  ou  “o”, nas palavras.  Ex: irmã, mãe, pão, João, cães, leões.
Apóstrofo ( ‘ ).
Serve para indicar a retirada de um som da pronúncia de certas palavras.    Ex.: ‘tá bem!  (está bem!)
Galinha d’angola  (galinha da angola)    Lobo D’Almada  (Lobo De Almada)
Cedilha ( ¸ ).
Usa-se debaixo da letra “c” ( ç ), antes das vogais a, o, u para indicar o som de “ss”.   Ex.: caçar, mulçumano, pescoço
Hífen ( – ) ou traço de união . Usa-se para:
a)     ligar palavras compostas que indicam apenas um substantivo: tenente-coronel, couve-flor, pão-de-ló, guarda-chuva, pé-de-cabra
b)    Para unir pronomes átonos aos verbos: disseram-me, encontrei-o
c)     Separar sílabas das palavras ao final da linha escrita
Observações:
A partir de Jan/2009, novas regras para o uso do hífen foram definidas. Deixa de ser usado  o hífen para unir palavras compostas por prefixos. Mas como toda regra tem exceção, permanece o hífen quando o prefixo terminar com r e a 1a. letra do segundo elemento também for r.
Ex: hiper-requintado, super-resistente, inter-religioso
Para saber mais sobre o acordo ortográfico acesse:
Portal da Língua Portuguesa – www.portaldalinguaportuguesa.org
Academia Brasileira de Letras – www.academia.org.br
Comissão de Língua Portuguesa – www.portal.mec.gov.br
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AUTO-AVALIAÇÃO
No texto abaixo, algumas palavras estão sem cedilha, til, acento agudo, acento circunflexo. Coloque estes sinais onde estiver faltando.
A gente vinha de maos dadas, sem pressa de nada pela rua. Totoca vinha me ensinando a vida. E eu estava contente porque meu irmao mais velho estava me dando a mao e ensinando as coisas fora de casa. Porque em casa eu aprendia descobrindo sozinho e fazendo sozinho, fazia errado e fazendo errado acabava sempre tomando umas palmadas. Ate bem pouco tempo ninguem me batia. Mas depois descobriam as coisas e viviam dizendo que eu era o cao, que eu era o capeta, gato ruco de mau pelo. Nao queria saber disso. Se nao estivesse na rua eu comecaria a cantar. Cantar era bonito. Totoca sabia fazer outra coisa alem de cantar, assobiar. Mas eu, por mais que o imitasse, nao sabia nada. Ele me animou dizendo que era assim mesmo, que eu ainda nao tinha boca de soprador. Mas como eu nao podia cantar por fora, fui cantando por dentro. Aquilo era esquisito, mas se tornava muito gostoso. E eu estava me lembrando de uma musica que mamae cantava quando eu era bem pequenininho. Ela ficava no tanque, com um pano amarrado na cabeca para tapar o sol. Tinha um avental amarrado na barriga e ficava horas e horas, metendo a mao na agua, fazendo sabao virar espuma. Depois torcia a roupa e ia ate a corda. Prendia tudo na corda e suspendia o bambu. Ela fazia igualzinho com todas as roupas. Estava lavando a roupa da casa do Dr. Faulhaber para ajudar nas despesas da casa. Mamae era alta, magra, mas muito bonita.
GABARITO
A gente vinha de mãos dadas, sem pressa de nada pela rua. Totoca vinha me ensinando a vida. E eu estava contente porque meu irmão mais velho estava me dando a mão e ensinando as coisas fora de casa. Porque em casa eu aprendia descobrindo sozinho e fazendo sozinho, fazia errado e fazendo errado acabava sempre tomando umas palmadas. Ate bem pouco tempo ninguém me batia. Mas depois descobriam as coisas e viviam dizendo que eu era o cão, que eu era o capeta, gato ruço de mau pelo. Não queria saber disso. Se nao estivesse na rua eu comecaria a cantar. Cantar era bonito. Totoca sabia fazer outra coisa alem de cantar, assobiar. Mas eu, por mais que o imitasse, não sabia nada. Ele me animou dizendo que era assim mesmo, que eu ainda não tinha boca de soprador. Mas como eu não podia cantar por fora, fui cantando por dentro. Aquilo era esquisito, mas se tornava muito gostoso. E eu estava me lembrando de uma música que mamãe cantava quando eu era bem pequenininho. Ela ficava no tanque, com um pano amarrado na cabeça para tapar o sol. Tinha um avental amarrado na barriga e ficava horas e horas, metendo a mão na água, fazendo sabão virar espuma. Depois torcia a roupa e ia ate a corda. Prendia tudo na corda e suspendia o bambu. Ela fazia igualzinho com todas as roupas. Estava lavando a roupa da casa do Dr. Faulhaber para ajudar nas despesas da casa. Mamãe era alta, magra, mas muito bonita.
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LEITURA SUPLEMENTAR
Por que os escritores podem deixar a gramática de lado, ao contrário dos mortais comuns?
Pode um escritor, em nome de sua arte, contrariar as regras da gramática? Esta é uma das principais questões levantadas pelo poeta português Fernando Pessoa em “A Língua Portuguesa”, reunião de dispersos organizados por Luísa Medeiros. Pessoa publicou pouca coisa em vida, mas deixou enorme quantidade de inéditos num famoso baú, de onde os estudiosos vem abundantemente extraindo surpresas e mais surpresas. O volume, que reúne reflexões, comentários, notas e observações sobre a língua portuguesa, está entre elas. O texto mais coeso contido no livro consta de um protesto de Fernando Pessoa contra a reforma ortográfica imposta pelo governo português em 1911.
Contrariamente à inclinação da reforma, o poeta julgava que era próprio da língua sofrer oscilações. Por essa perspectiva, poderia haver tantas ortografias quantos escritores houvesse. “A língua existe para servir o indivíduo, e não para escravizá-lo”, pensa o poeta. Sendo uma aventura intelectual, o ato de grafar não deveria submeter-se à vontade unificadora do Estado, assim como uma pessoa jamais aceitaria a imposição de uma religião que seu espírito recusasse.
Esse tipo de postura gerou um impasse. De um lado, ficam os gramáticos, impondo normas. De outro, os artistas, clamando por liberdade. A resposta à questão inicial – por que razão os grandes escritores podem “errar no português”, ao passo que o comum dos mortais tem de se submeter ao constrangimento das regras da gramática – é simples. Os artistas da língua não passam para a posteridade porque rompem com a norma, mas porque sabem tirar proveito da ruptura.
A transgressão, para ser bem-sucedida, deve possuir função estrutural. Tanto no texto, como no comportamento. Ela pode dar a impressão de firmeza, de precisão, de ambigüidade, de ironia ou sugerir diversas coisas ao mesmo tempo. Na maioria dos casos indica novas propostas para o futuro. Além de introduzirem a renovação modernistas em Portugal, as rupturas observadas nos versos de Fernando Pessoa personificam seu descontentamento diante da saturação dos modelos. O poeta vivia à cata de novas soluções para velhos problemas existenciais. Por exemplo: diante da necessidade de captar a simultaneidade de sensações passadas e presentes, produziu uma frase antigramatical, mas extremamente expressiva: “Fui-o outrora agora.”
Pela perspectiva dos artistas, os gramáticos não passam de meros guardiões de uma inutilidade consagrada pelo poder constituído. Para eles, dominar a norma culta do idioma não excede, em valor, o conhecimento do código de trânsito, por natureza convencional e efêmero: num dia, certa rua dá mão; no outro, não dá; e, na próxima semana, pode ser que a mesma rua não exista. Observa-se o mesmo nas normas de gramática, que varia conforme as convenções gerais de cada época.
Acontece que os artistas pretendem escrever também para as gerações futuras. Nesse sentido, a adequação a normas anteriores pode prejudicar a dinâmica da criação. Camões, que na vida pratica não passava de um soldado afeito a viagens e aventuras, foi considerado pelos figurões da corte um “rústico magalho” (indivíduo sem cultura), simplesmente porque fazia questão de cultivar certo tipo de poesia popular no ápice da erudição renascentista. Não obstante, em seu tempo não havia propriamente uma gramática que codificasse o certo e o errado. Muita coisa ainda se resolvia pela autoridade do latim, embora Fernão de Oliveira já tivesse publicado a primeira tentativa de gramática portuguesa, em 1536. Segundo ela, a grafia correta para João será Joane, de onde deriva o atual feminino Joana.
No século XIX, poucos autores terão se batido tanto pela liberdade de expressão quanto José de Alencar. Ele julgava necessário criar um português adequado ao clima tropical. Os filólogos não cansavam de apontar impropriedades em seus romances. Saturado de polêmicas, o autor, por ironia, imaginou em “Senhora”, um crítico que, numa conversa de salão, enumera os erros do romance “Diva”, publicado anteriormente pelo mesmo José de Alencar. Ainda hoje, alguns professores de gramática insistem em usar os textos de Alencar para exemplificar erros de colocação pronominal. Mal sabem eles que as terríveis normas de colocação de pronome foram estabelecidas bem depois da morte do romancista.
(Ivan Teixeira, doutor em Literatura Brasileira pela USP. In: VEJA, 21/04/1999)

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